sexta-feira, maio 28, 2010

Despertar

Saudade das manhãs infinitas,
Das nossas vidas divididas. Reveladas.
Saudade dos corpos sinceramente abraçados,
Das nossas rusgas e asas.
Me ensina a voar para casa.
Eu já esqueci o caminho.
Essa arte que se faz sozinho,
Não me envaidece. Amarga.
Ainda que nas lembranças,
O desejo se conforme.
Esse tempo me sequestra
E me faz querer a festa
Desse amor que se recolhe
Mas não dorme.

segunda-feira, maio 24, 2010

Pega ela aí, pega ela aí.

Enquanto eu digladiava com meus cabelos revoltosos, fazendo mil mabalarismos para fazermos as pazes, minha mãe de cá falou:

 - Alessandra, minha filha, você tem que parar de maltratar o seu cabelo. Assume ele como ele é. Você vai acabar careca.

Primeiro eu tenho que esclarecer que meu cabelo é tal qual um algodão doce. Cheio, leve e sem forma.
Toda noite, já na cama, eu brinco de tentar adivinhar como o meu cabelo vai amanhecer.
Prontamente eu respondi à minha mãe:

- Assumir? Assumir o quê? Por acaso eu cometi algum crime? Estou sendo acusada de alguma coisa e não sei?

Minha mãe fez aquele barulhinho de quem tira sujeira do dente e mergulhou na leitura de "A Cabana", presumindo que eu fosse iniciar um discurso moralizante sobre "A revolta dos cabelos crespos" ou "A mulher negra e o século XXI" . Mas eu não fiz. Me quedei silenciosa e vitoriosa de mim mesma. No íntimo, ela compreendeu que essa tal liberdade, não está em poder desfilar cabelos crespos e volumosos, nem em  tocar livremente os nossos tambores, nem em votar nas próximas eleições, nem em professar a nossa crença nos terreiros, nem em ser eleito presidente dos EUA, nem em ser sujeito de direitos garantidos constitucionalmente, nem em jogar capoeira em praça pública, nem em cantar na Timbalada, nem em ser protagonista da novela das oito.

Liberdade mesmo é poder ser quem se quer ser. Por dentro e por fora. É saber que a nossa vida não é propriedade de ninguém. Nem mesmo o nosso cabelo, genuinamente, historicamente e culturalmente, africano.

segunda-feira, maio 10, 2010

Menos Bossa Nova, Mais Rock'in Roll

Enquanto me faltam palavras,
Vou garimpando o que ouço, o que me toca.
Tudo aquilo que traduz o que, em silêncio, meu coração têm gritado.
Não sei exatamente quantos versos cabem nesse sentir.
Mas se fosse uma música, que me perdoe o Tom e a sua turma, seria um rock pesado, com solo de bateria e o escambau.

Me Adora
(Pitty / Derrick Green / Andreas Kisser)

Tantas decepções eu já vivi.
Aquela foi de longe a mais cruel.
Um silêncio profundo e declarei:
“Só não desonre o meu nome”.

Você que nem me ouve até o fim,
Injustamente julga por prazer.
Cuidado quando for falar de mim
E não desonre o meu nome

Será que eu já posso enlouquecer?
Ou devo apenas sorrir?
Não sei mais o que eu tenho que fazer
Pra você admitir

Que você me adora,
Que me acha foda,
Não espere eu ir embora pra perceber
Que você me adora,
Que me acha foda,
Não espere eu ir embora pra perceber.

Perceba que não tem como saber.
São só os seus palpites na sua mão.
Sou mais do que o seu olho pode ver,
Então não desonre o meu nome

Não importa se eu não sou o que você quer.
Não é minha culpa a sua projeção.
Aceito a apatia, se vier,
Mas não desonre o meu nome.