E ele chega de repente
Com o ar de quem pressente
Que ela é dele mais que tudo.
E chega trazendo a mala
Cara limpa, alma lavada
Dizendo: "Eu vou pro mundo!"
E ela finge que nem sente
Acende um cigarro e treme
Pensando: "Não choro. Juro!"
Por dentro ela pesa e cora
E mais um cigarro. E chora
Pedindo: "Não leve o Pluto".
E ele ignora a cena
Respira em dois tempos. Senta
Sentindo: nada e tudo.
Ela entra, vai pro quarto
Bate a porta, quebra o salto
E ri, morrendo no fundo.
Ele bate a porta e dança
Com passo de confiança
Planejando um novo rumo.
Na cama ela se consola
Pois se livrou da história
Que só trouxe infortúnio.
E ele volta de repente
Com o ar de quem pressente
Que ele é dela mais que tudo.
Depois da louça quebrada
Agora a mala vazia
Respira em dois tempos, sentia
Sossegado: tudo e nada.